A toca do Buenossauro

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quarta-feira, julho 30, 2008

Ha det godt!



Meus caros, venho anunciar que as portas da Toca estão fechadas até segunda ordem. Continuo escrevendo, no entanto, e vale lembrar que uma página escrita nunca é uma pagina virada: o que se passou aqui está aqui e ainda tem o seu lugar, para aqueles que quiserem relembrar cavernas, montanhas ou contos-de-fada.

Minhas portas fechadas, no entanto, não significam que não vou receber visitas, a Toca ainda acolhe seus amigos. Sendo assim, aqueles que quiserem ler uma palavra ou outra, mandem seus e-mails para buenotkd@gmail.com , recebê-los-ei com o maior prazer e enviarei alguma coisa, o que de mais novo eu tiver à disposição, ou mesmo o que for pedido. Acredito que o e-mail trará uma proximidade maior e, com isso, alguns leitores que se sentem vexados de comentar em blogs possam se abrir mais e me trazer todo o tipo de sugestão, comentário, reclamação, crítica, etc.

A foto vai em homenagem à minha Lorena, talvez a última homenagem que faço a ela nesse blog, ainda que muito longe de ser a última de todas. E, também, acho legal um sorriso assim para traduzir o que foi pra mim manter a minha toca aberta.

É isso aí.

CHEERS!

domingo, maio 25, 2008

A terceira vez

-para o meu amor

Os pais de Pedro botaram-no no judô. Faz bem pros ossos, pros músculos, pra cabeça. Toda segunda e quarta, às quatro, e quem levava era a empregada. O tatame não ficava longe de casa, coisa de dois quarteirões, só um pouquinho pra trás da rua de trás: e era freqüentado, àquele horário, basicamente por meninos da idade de Pedro (quanto tinha? Uns nove?). O nosso herói-mirim, no entanto, não tinha lá feito muitos amigos. Aliás, não sejamos injustos: não faz nem bem um mês que o nosso garoto começou a praticar; mas enquanto todos os outros meninos brincavam juntos durante os intervalos ou faziam troça, uns com os outros, dos alongamentos e exercícios mais estranhos, Pedro era aquele no fundo do tatame, quieto. Pelo menos não mexiam com ele. O treino acabava às cinco e as mães e pais buscavam seus jovens lutadores, mas o nosso, sem amigos e distante dos outros, era trazido de volta também pela empregada. Era coisa pouca, afinal, não mais do que dois quarteirões.

E o nosso Pedro treinava, era até esforçado, dentro dos limites que vemos nas crianças que, naquela idade, têm muita energia para gastar e pouca paciência para se concentrar. Depois de seis meses e muito suor, chegou o dia do exame de faixa. Agora estava ficando sério: da branca para a cinza, quase preta. Para não se atrasar, nosso campeão saiu do banho às três; vestiu seu judogui com tanto esmero que ficou lindo de ver - um guerreiro mirim pronto para as glórias da guerra. Às quinze para as quatro (sim, gasta-se mais de quarenta minutos com calça, camisão, faixa e chinelos, que o digam os artistas marciais que há milênios sem conta encaram seus exames de faixa) quase morreu de ansiedade, a empregada ainda demorava-se para sair. Saíram, enfim: e não vale a pena narrar aqui estes não mais do que dois quarterões, mesmo sendo dia de exame de faixa. Agora nos importa que ele chegou.

Candidatos no exame eram poucos, mas o lugar estava cheio, pais, mães, primos, fotografias e até um cachorro. Coração de herói, que sempre bate mais forte, estava de não se agüentar, as pernas tremendo, o nó na garganta, que sempre vem nas piores horas, os movimentos aparentemente frouxos. Já dizia o sábio, o pior silêncio é aquele que precede as grandes batalhas. Ainda muito novo para ser sábio, nosso Pedro só fazia se assustar com aquele silêncio todo, quebrado somente pelas batidas do seu coração - cabe aqui dizer, até, que não só mais forte bate o coração deste nosso herói, mas muito mais alto, também. E ele caminhava à sua glória ou sua derrota, não se sabe ainda; se se soubesse, inclusive, vale lembrar que o nosso coração não estaria assim palpitante; bateria só pra cumprir tabela, por assim dizer.

Um momento em branco, de apreensão, de suor frio.

Mas que golpes! Que postura! Que execuções! E que linda esta nova faixa colorida (pois cinza, mesmo que meio morta, é uma cor) que cingia-lhe a cintura! A empregada, desculpe-me não me recordar do nome dela, adorou. E voltaram para casa.

Na semana seguinte seria seu primeiro treino de graduado. Mais responsabilidade, mais força, mais macheza. E acabou sendo, mesmo, há menos surpresas do que pensamos na vida dos grandes guerreiros.

A única surpresa, e das grandes, é esta: acabado o treino, passaram por ali os pais de Pedro e o levaram a uma pizzaria pra comemorar a conquista do filho. E a partir de então eles tornaram e tornaram a buscá-lo depois das aulas, exceto em alguns poucos dias de reunião no trabalho, mas isso, filhos que também somos, compreendemos e perdoamos.

Uma péssima maneira de terminar uma história, eu sei, mas o leitor também não deve esperar mais. Afinal, rápidas como este fim que não é fim, há muitas coisas na vida que simplesmente acontecem, e para melhor.

sábado, abril 12, 2008

Manifesto pós-modernista

Pelos peitinhos, pela chupada, pela trepada!

Numa época em que tudo foi pensado, dito e escrito, nos resta o sexo: indiscriminado e indiscriminante, mas também egoísta: a realização pessoal, o gozo, o jorro da porra: egoísta, egoísta, egoísta.

Tudo que já foi lido já não mais o será por nós; muito menos o escrito e o teorizado; já não acompanhamos o pensamento que vem sendo construído há milênios: não há mais para nós; o limite humano já foi alcançado. Voltemos ao instinto primordial: sexo, sexo, sexo.

Indiscriminado, indiscriminante e, acima de tudo, egoísta. Pela realização pessoal num mundo solitário onde ninguém mais se conhece e, muito menos, se reconhece.

Genitáliás do mundo, uni-vas!

Pelos peitinhos, pela chupada, pela trepada!


- por André Moura e Luca Palmesi

quarta-feira, abril 09, 2008

Intelectubosta

Oswald de Andrade é o pai da nossa literatura. Mário é a mãe, ouvi dizer que ele gostava de um...

Não falo mais esse tipo de coisa. Todos somos livres para termos nossas escolhas. Eu até virei bi. Entrei pro circo e virei bi. Pra ser mais livre, sabe.

Entrei pro circo porque é lá que estão todas as artes. Todas elas. O circo também está em todas as artes. É lindo! Ainda estou nos malabares, pretendo trabalhar um lado mais teatral. Acho que sempre tive isso, desde criança, sabe? Pois é. A questão da dança também... adoro tango; principalmente Gardel e Pasolini.

Minha música preferida? Ah, eu conheço quase tudo deles, gosto muito, mas não sei nada de nome. A música fala por si só, não precisa de nome. Gosto também de samba, mas tem que ser de raíz. E música minimalista, é claro. Phillip Glass e... VOCÊ NUNCA OUVIU??? Nossa, é muito bom! Impossível alguém nunca ter ouvido! Em que planeta você vive? Música dele que eu indico? Ah, tem a trilha sonora do Qatsi - essa trilogia você já viu, né? -, além disso acho que ele nem escreveu muita coisa não.



Ah, sim, já li um bocado desse Hegel. Aquele que escreveu o manifesto comunista com o Marques, né? Muito bom. Adoro essas análises sociológicas. Mas na literatura mesmo eu abomino o cânone. Aquele Machado de Assis, quê que tem de tão importante? Uns floreios estilísticos, umas análises meio superficiais... nego tanto essa estupidez de cânone quanto a literatura de massa. Tipo Paulo Coelho e Harry Potter. Ah, o Código da Vinci? É, li um pedaço, mas larguei. Ouvi dizer que o papa excomungou todo mundo que leu, né. Graças a Deus que eu não fui excomungada, já que sou atéia. Mas eu gosto mesmo é de ler Fitzgerald. Acho mesmo que a Literatura Brasileira precisa de um grande escritor. Não apareceu nenhum desde Manoel de Barros.

Estou apaixonada, sabe? Ele é liiindo! Super descolado, acho que você já viu, aquele que usa alargador, de óculos, sabe? Ouvi dizer que faz História. Ele é muuuito legal, sabe de tudo! E tem tudo a ver comigo. Até gosta de Almodovar, também! Conheci ele na mostra de cinema de Pindamonhangaba. VOCÊ NÃO FOI? Perdeu. Estava M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O! O que eu assisti de bom lá? Bom, teve um curta muito bom. Adoro curtas. Depois o pessoal quis ir pra cachoeira e eu fui junto. Ficar muito preso nesses lugares também não é legal. Temos que ter um capital de convivência, um mínimo de discussão. Além do mais, odeio os cults que vão a essas mostras. Eles não respeitam a nossa liberdade de escolha.

segunda-feira, março 31, 2008

My number one

You’re my lover
undercover
You’re my secret passion and I have no other

You’re Delicious
So Capricious
If I find out you don’t want me I’ll be vicious

Say you love me
and you’ll have me
In your arms forever and I won’t forget it

Say you miss me
Come and kiss me
Take me up to heaven and you won’t regret it

You are the one
You’re my number one
The only treasure I’ll ever have
You are the one
You’re my number one
Anything for you ’cause you’re the one I love

You re my lover
undercover
You’re my secret passion and I have no other

You’re a fire
and desire
When I kiss your lips, you know, you take me higher

You’re addiction
my conviction
You’re my passion, my relief, my crucifixion

Never leave me
And believe me
You will be the sun into my raining season

Never leave me
And believe me
In my empty life you’ll be the only reason



mesmo a música não sendo minha, dedico o post à Lorena.

Versão original, de Helena Paparizou: http://www.youtube.com/watch?v=8kgOu1MZL_I
Versão do Dream Evil: http://www.youtube.com/watch?v=pu1V1BSaayg

domingo, março 09, 2008

De quando eu fui poeta

Uma vez eu fui poeta. As meninas adoravam, e eu fazia o maior sucesso: com dois versos, no máximo três, elas já iam abrindo as pernas. Eram ruivas e morenas. Das loiras nunca gostei, sempre muito metidas. Ou pouco metidas, se é que você me entende, e era esse o problema. Enfim, cheias de marra.

Naquele tempo as loiras parece que dominavam as ruas, as praças, os shoppings, tudo por onde passavam: saltos plataforma, cabelos longos e saias que marcavam bem o corpo. Gostosas. Os homens todos, mesmo os mais comportados, seguiam-nas com seus olhares, desejos, comentários. Mas eu nunca gostei. Não das loiras. Elas passavam com o nariz em pé, sempre cientes das intenções dos homens, e isso as fazia melhores do que as outras, segundo elas mesmas. Tão melhores que não pareciam gente: a maquiagem sempre impecável, o semblante inabalável, o rebolar sempre hipnótico. Eram deusas de mármore, de coxas, peitos e água oxigenada.

Certa vez uma delas - linda, gostosa, coxas grossas, daquelas que dá vontade de montar - esbarrou em mim. Olhava bem pro alto, imagino, não me viu - caiu. Ajudei-a a se levantar, me esforçando para manter a expressão imóvel, fria. Ela agradeceu e foi-se embora, cabisbaixa. Teria terminado ali, não fosse - imagine qual a minha surpresa - um reencontro, de novo num esbarrão, logo que virei a esquina. Estranhei um pouco, franzi o cenho: ela sorriu, sem graça, murmurou alguma coisa, estendeu a mão para que eu a ajudasse a se erguer. Ajudei. Sou ..., disse, ainda segurando minha mão, coincidência te ver de novo por aqui. Não respondi. Devia ser meio burra, coitada, não fazia cinco minutos do primeiro encontrão. Hm, disse eu, mal-humorado. Evitava olhar diretamente pra ela. Você mora por aqui, ela estava interessada. Devia ter farejado que eu era poeta, essas loiras safadas são assim, estava louquinha pra dar. Logo ali, respondi, mesmo não gostando de loiras - de graça até injeção na testa. Continuei calado, até que ela me pegou com um olhar: seus olhos eram verdes. Bonitos, tenho que reconhecer. Você se machucou, fingi preocupação, temos de ser cavalheiros, não, não machuquei, e ficamos calados mais um tempo. Parecíamos os dois sem graça. Ou melhor, só eu. Ela era uma loira safada. Só queria pica.

Levei-a a uma lanchonete. Ela pediu um sorvete, e eu uma coca-cola. Continuamos em silêncio, e eu ainda fitando a parede. Não queria ser hipnotizado por uma loira. Você é bastante tímido, hein, voltou a dizer, eu abri um sorriso, reconheço, tímido. Ela fez uma observação engraçada sobre alguma coisa que devia ser engraçada, eu suspirei e sorri. Me peguei respondendo ao que ela perguntava sem me dar conta das respostas. Naquela hora eu só pensava que estava ali com uma das rainhas do mundo, das mais bonitas, e que logo iria comê-la. E pensei também que era esse o pensamento que hipnotizava todos os outros homens. Pensei também que esse pensamento não me pegaria, porque eu era poeta, acima dos homens. E pensei que eu era poeta porque as loiras não me hipnotizavam, e não o contrário. Porque eu já não gostava de loiras. Nunca gostei de loiras. Ali era só trepar, acabou.

Tão rápido como aqui nesse texto ela já estava no meu quarto. Me beijava e lambia o corpo todo, e eu gostava da língua dela. Usei a minha também, e nossas línguas eram nossas existências, e os sussurros, as safadezas - dela, que era loira, eu era poeta -, o suor, o êxtase. Nem sei por quanto tempo foi assim. Reparei que ela ser loira pouco mudou, a trepada foi mais ou menos a mesma. Me perguntei por que os homens tem essas taras, essas obsessões. Eu que nunca gostei de loiras comi uma bem mais fácil do que se fosse louco por elas. E quando saímos do meu quarto vimos que não havia mais loiras no mundo. Eram todas morenas e ruivas. Gostosas, mas morenas e ruivas. Por muito tempo todos os homens desejaram-na em seus sonhos e desesperos mais profundos, mas eu não ligava, nunca gostei de loiras.

Foi só quando ela, a última, sumiu que percebi - para minha desgraça e arrependimento eternos - loiros eram meus versos. E eu nunca mais fui poeta.

domingo, fevereiro 03, 2008

Norge


Savner familien og venner. En masse.