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segunda-feira, janeiro 01, 2007

Construção

Acordei sem saber direito onde estava e ainda sob o efeito do álcool. Saí da casa e vaguei por aí, sem ter uma idéia muito clara de onde ia parar. O céu, muito cinzento, indicava um meio dia que estava por amanhecer: incompleto, o ar soltava suspiros de ressaca.
Passei por uma bonita vizinhança, casas muito ricas e luxuosas, muros altos e cercas elétricas. Ninguém na rua. A borda da lagoa inspirava a mesma tranquilidade naquelas águas verdes - tão verdes que até pareciam limpas.

Aquele era o mundo de sempre, as mesmas árvores, postes e ruas e pessoas. Só que estas estavam dormindo. Convalesciam da passagem do tempo, da delimitação de nossos sonhos e destinos.

A primeira pessoa que vi na rua estava distante, mas deu pra reparar bem - bigodes, chinelos, boné de armazém. Um homem simples, olhava fixamente para uma obra da prefeitura municipal. Eu daria todo aquele silêncio para saber o que ele pensava, mas continuei andando, preferi tirar minhas próprias conclusões.
O dia mais tranqüilo do ano, talvez a única folga, sendo aproveitado assim. Calado, os olhares para observar, dessa vez do lado de fora, o andamento do trabalho. O mesmo de sempre - mas aquele já não era mais um 'dia'.

Confraternização universal - a hora da grande ressaca, quando o mundo tem a oportunidade de refletir sobre a ida e a vinda dos anos, por mais que o Tempo não os acompanhe. Os minutos que temos para refletir sobre essa vida que continua disforme e indecisa. Para refletir sobre a imprecisão, crueldade e alienação da contagem dos anos.
Nao fosse a ressaca, poderíamos expandir nossos sonhos para além do "ano novo", deixar o mundo ter mais dias como esse - o dia em que ele se permitiu morrer na contramão, só para atrapalhar o tráfego.