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segunda-feira, junho 25, 2007

Outro reencontro

Reencontro
O tempo passou pra ela,
o tempo não passou pra mim.
Não é que fiquei parado,
é só que não corri.

- 23/03/06


Entrei naquele prédio com a sensação de ter pisado ali já há muito, o que até não estranhei, sempre vivi na região. Tinha um playground grande, do qual com certeza eu me lembraria se já tivesse passado por lá. Então não era. Ia a uma festa, e não esperava ninguém realmente conhecido, estava quase de penetra. Para minha surpresa, um rosto bem familiar, e outro, e mais um; mas só, e ficou por isso mesmo.

Passei um tempo conversando com os amigos que acompanhava, cheguei inclusive a comentar uma história que escrevia há tempos, meio autobiográfica e meio moralista - o que não dá muito certo, porque uma autobiografia minha pode ser tudo, menos moralista. Uma história gostosa de escrever, ainda assim. Pegar casos e causos, aumentá-los, colocar um quê de fictício nas personagens que sim, quase todas, também têm seu quê de real. E tem essa personagem, a Laura. Uma mistura de outras duas personagens reais, nasceu de uma experiência bem inusitada que tive; bem completa, também, envolveu poesia e mistério, só faltou ação.

Aí que parei, olhei, me aproximei. Era uma menina que estava a um canto, na qual nem tinha reparado, mas que logo eu tive a impressão de tê-la conhecido há alguns anos.

- Oi, você estudou na...?
- Nossa! Você é o ...!

Essa facilidade com a qual ela se lembrou de mim me assustou, a princípio. Achei que eu fosse o louco ali, daqueles que sempre se lembra de nomes e rostos com facilidade incrível. Só depois atinei que as brigas e eventuais suspensões, além de muitos amigos, não sejamos injustos, me deram uma posição quase que de patrimônio, ou mesmo lenda da Escola. A menina se lembrava de mim, mesmo nunca tendo conversado comigo enquanto éramos colegas. Sexta série? Talvez.

Ainda tinha tudo da Laura que desenhei na minha história, menos o nome, claro, e as características da outra pessoa na qual a personagem também foi baseada. Fiz uma pergunta:

- Você chegou a descobrir... ?
- Então foi você?

Pronto! Me tirou o mundo das costas! Uns anos de trauma, vi que não era bem assim. Aqueles poemas, ou poemetos, anônimos, que não cheguei a entregá-los todos: logo no segundo ou terceiro (eram dez, ou mais) pensei que ela já tivesse descoberto minha identidade ultra secreta. Abandonei o plano, fiquei com vergonha, não olhei mais na cara dela, sumi. Se me sinto arrependido por não ter continuado com a idéia, já que, no fim das contas, ela não sabia de nada? Não, valeu o susto.

O que me deixa encucado mesmo é o tanto mudado nela. Fisicamente ainda é a ... que conheci, que se tornou Laura; mas, por dentro, dá pra ver que mudou muito. Pelo modo de sorrir, mesmo. Faz um curso interessante em uma faculdade respeitada, ganhou a vida e o mundo nessa conversa que tivemos. Agora ela existe, não é mais só uma imagem fosca da minha puberdade. Tem sua autonomia de pessoa viva, por mais que eu, se nos encontrarmos novamente, vá olhar pra ela quase que como a uma filha. Afinal, não deixou de ser, ou de ter, a personagem que criei.

Perdido assim, pasmo e indefeso frente à descoberta repentina de alg(uém)o completamente novo (por não ter podido acompanhar enquanto também crescia, o que me dá a terrível sensação de atraso, de ter ficado pra trás), retomo os versos que escrevi pra outra, nem de longe tão importante mas que também me despertou essa mesma sensação: "Não é que fiquei parado,/ é só que não corri."

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bom... que honra ter o primeiro comment desse post... e que vergonha só ter lembrado de entrar aqui hoje.
Mas acho que tenho uma boa idéia da parte "real" que te inspirou aí...hehe

velhos tempos de Escola da Serra hein?

Parabéns pelo blogg e pelo seu estilo literário. Gostei mesmo.

Abraços cara

25 de junho de 2007 às 17:10  
Blogger debinh5 said...

isso ficou emocionamente lindo!


mas dessa ainda hitória ainda não sei.
;*
parabéns por mais um textos daqueles: a serem bem guardado e publicado um dia.

25 de junho de 2007 às 21:32  
Blogger Lucas Alan Pinto said...

Pô.
legal.
identifiquei até.

26 de junho de 2007 às 14:51  
Blogger Lara Spagnol said...

Essa coisa de criar personagens já existentes é uma ótima experiência. eu só não sei se reagiria tão bem a um encontro com a musa como você reagiu.


[e, ha. letreiro com blog é quase pleonasmo, hein.]

26 de junho de 2007 às 23:00  
Anonymous Anônimo said...

Aqui, quando e como a gente vai começar aquela idéia sua?? Eu já andei viajando pra criar uma personagem...

28 de junho de 2007 às 15:45  

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