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sábado, junho 16, 2007

Três

Lá chegávamos, as caras de espanto, de novidade, de sem saber. Incômodo nenhum, enquanto não fazíamos nem idéia do que era. Vi, de relance, a menina sobre uma mesa, e falava coisas pausadas. Ininteligíveis, pra mim ou pra qualquer dos presentes. Ainda me lembro do sorriso fraco que tentava. Foi tudo uma brincadeira que durou poucos minutos em algumas horas, agora que olhamos pra trás; nos ficam, no entanto, as palavras soltas por uns e as risadas praticamente imploradas por outros. Um céu que era azul e escureceu, para amanhecer de novo; é assim que me sinto tantas vezes. Fechada, quando me dá uma palavra tenho um raio de sol, daqueles que cega. Com três delas, uma vez, em uma pergunta bem colocada, me fez sorrir a perda daquelas outras de antes. Estou ainda intimidado com uma simples complexidade tão inalcançável que se põe diante dos meus olhos - todos os limites entre o falar e o calar, sempre à prova para alguém que quer cativar um amigo, mas ainda tem medo de mundo.

Cedo, aí, uns minutos ao espelho. Leio nos meus próprios olhos, em outro, tudo aquilo o que fui, o que sou e o que deixei de ser. É bem original seu modo de me dirigir as considerações mais puras e também as vis, com uma sinceridade ímpar e quase etérea. Busco nesses gestos e palavras as outras chances de movimento que eu teria, as respostas de mim para mim, uma lógica para meu próprio ser. Entendo, nele, também não um ser que se torna único ou imutável: muitas vezes é ele a própria síntese das (des)mudanças no meu caráter. Recebo as notícias do dia, da noite, da semana - um comentário ou outro, silêncio. Um muro alto que não quebrei ainda dentro de mim mesmo, uma carruagem sem cavalos. Apesar de acuado e indeciso, tomo dos meus sentidos, apuro-os e... jogo fora. Assim me diz um espelho que nada tem de mim.

Perco-me em mim mesmo, no meu espelho, no meu silêncio. Encontro somente mais um tão diferente, tão igual e gentil. Daqueles bem tímidos como luto para derrubar, não ele, que timidez lhe cai bem, mas o meu modo sofrido que escondia atrás dos olhos. Recordo que um jeito vago delineia algo que eu tenho de meu, de secreto e verdadeiro. O que é ainda não sei; se nobre ou pobre, a diferença é meramente consonantal. Sei desses três caráteres fundidos em um só, aqui, em mim, que representam momentos, umas e outras palavras e também sorrisos. Mundos que descubro por tropeços e coincidências, mas nos quais ainda não consigui entrar, dos quais talvez nunca faça parte. Mas já são mundos que fazem parte de mim - mesmo que (e agora me preocupo com o limiar do falar) por poucos momentos nos quais percebo alguma poesia.

2 Comments:

Blogger Unknown said...

*sorriso*

17 de junho de 2007 às 07:47  
Blogger Cléber said...

PUTAQUEOPARIL, CARA! Isso aqui ficou muito bom! Eu tive que ler e ler e ler... e reler. Muito bom. Acho que vc estava mesmo inspirado, hihi! Fiquei lisonjeado tb!
Um abraço, amigo.

20 de junho de 2007 às 22:22  

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