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quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Ressurreição lírica

Stephen King disse, não sei aonde, que uma história só termina quando está morta na imaginação de seu autor. Aí, então, não há nada que a salve ou traga de volta à vida.

Começo com essa citação por ainda não ser capaz de parafrasear escritor mais inteligente; está aí também uma forma de mostrar uma certa despreocupação com a profundidade do conteúdo. Enquanto não sou Machado de Assis, meus ídolos que me perdoem. Admito, inclusive, que me diverti muito lendo ''The Gunslinger'', do próprio King, ou mesmo alguns livros da série ''The Lord of the Isles'', de David Drake. Isso foi lá de volta à minha bela Noruega, mas o princípio continua. Na hora da fome, qualquer junk food resolve.

Ingressando nas Letras também não espero me encontrar com Ovídio ou Homero; muito ao contrário, um Dan Brown é mais provável que apareça por lá. Não me preocupo com isso e no entanto devo reconhecer que às vezes gostaria de viver há um milênio ou dois. Mas como nem romântico nasci, encaro essa minha súbita morte lírica com a apatia que me cabe.

Me dediquei muito à autópsia de meus versos. Desilusões foram minando o fígado; a falta de perspectiva arrancou-lhes um pulmão e a falta de matéria chegou ao coração. Infartaram na hora, coitados.

Nunca foram, na realidade, muito assim, vivos. Fora excessões, alguns sonetos e um verso diagonal, não os via respirar - faziam muito esforço, mas não adquiriam a autonomia necessária àqueles que querem nascer, de verdade.
Não foi nunca por falta de coração, seria um absurdo afirmá-lo depois de tantas lágrimas vertidas. Faltou um ingrediente extra a muitos deles, a voz, que sempre li nos poemas de Cecília e teimava em procurar nos meus.

Demorei a perceber que o problema não era com os versos, mas o versador; um desses que lê e parafraseia Stephen King e, ao mesmo tempo, é capaz de contar nos dedos os livros de poesia que passaram por suas mãos.

Um Manoel de Barros mal lido aqui, uma Cecília engasgada ali - foi difícil passar, estava de mãos dadas com Augusto dos Anjos - e mais uns e outros. Acabei tomando mais gosto pela prosa, mesmo.

Poemas - justifiquei-me a mim mesmo - são muitas vezes mal escritos, simplesmente cuspidos ao papel por mongolóides que escrevem prosa em verso, dizendo ser sinceros. Foi a falta de bagagem que me fez acreditar que tudo o que há é realmente medíocre. E não é. Que me digam os colegas d'A Parada. Foram eles que pegaram aquelas maquininhas de dar choque nos semimortos.

Quem me trouxe de volta à vida, no entanto, foi um filme. Tão vazio quanto os best sellers que ando lendo, Music and Lyrics é, apesar disso, um filme bonito. Não só por trazer como protagonistas os bonitões Hugh Grant e Drew Barrymore, mas por ter uma das melhores histórias água-com-açúcar que eu já vi.

Foi a minha ressurreição lírica.

Percebi que não devo escrever à sombra dos escritores que admiro, nem querendo reconhecimento, como era o Eu Lírico que deixo lá enterrado - como ficou registrado no post ''Prosa Íntima''. É levantar o queixo, respirar fundo, engasgar às vezes, mas sempre trazer algo novo. Nascer novamente, isso que vejo em cada um daqueles poemas que romperam o útero. Descobri meu próprio timbre, e agora contradigo o início do texto.

2 Comments:

Blogger Laryssa Mariano said...

descobriu seu próprio timbre mesmo, porque isso aqui

Nunca foram, na realidade, muito assim, vivos. Fora excessões, alguns sonetos e um verso diagonal, não os via respirar - faziam muito esforço, mas não adquiriam a autonomia necessária àqueles que querem nascer, de verdade.

isso aqui, é chegar lá.

A propósito, saudades.

5 de março de 2007 às 00:34  
Blogger Laryssa Mariano said...

Tah, eu retiro o que eu disse aí em cima enquanto vc continuar postando historinhas de aventuras de rpg...

5 de março de 2007 às 00:36  

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