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quinta-feira, agosto 09, 2007

The 'bus girl'

Pele muito clara, cabelo curto e escuro como os olhos. No corpo e no rosto, traços europeus que, por não serem escandinavos, até traziam um quê de exótico à sua aparência. Estava sentada mais ou menos no meio do ônibus e, logo que entrei, percebi seus olhos em mim. De que jeito me olhava? Com insistência, sei disso. Sentei no banco logo à frente do dela (e logo me arrependi, já que teria de me virar para mirá-la, o que daria muita bandeira). Foi uma força desumana que tive que fazer para olhar para trás só uma ou duas vezes até descer do ônibus. Aí, descaradamente, me virei para o ônibus e fiquei uns segundos ali, até que ela saísse de vista. Dessa forma eu descobri - não sei se pra minha felicidade ou vergonha - que a menina era tão ou mais descarada que eu e fixou os olhos nos meus; mas nenhum de nós abriu o mínimo sorriso, ao contrário do que costuma acontecer nos filmes americanos. Mas aí tudo bem, eu não sou jogador de futebol americano e ela (acho) não é líder de torcida.

No dia seguinte fiz questão de pegar o mesmo ônibus no mesmo horário, e lá estava ela. Dessa vez peguei um lugar um pouco mais pra trás e do outro lado do ônibus, pra ficar meio que na diagonal dela. Além de não se segurar, como eu fiz no dia anterior, e se virar várias vezes -mesmo que de forma tímida e até recatada, ela manteve o olhar (pude percerber porque a via de perfil) no canto dos olhos, de maneira que, mesmo que não me visse diretamente, me mantinha no seu campo de visão. A trilha dessa viagem, pelo que me lembro, era Black Sabbath e, em dado momento, o trecho inicial de Lord of this World me chamou a atenção: "You've searching for your mind don't know where to start/ Can't find the key to fit the lock on your heart(...)"

Em uma semana a encontrei mais umas quatro vezes no ônibus, e os olhares, de ambas as partes, se repetiram. Fui logo contar à Lena, que se interessou bastante pelo caso. Mais uns dois ou três encontros - sendo que num deles eu inclusive estava com essa minha amiga no ônibus, a menina se tornou um assunto tão comum, mesmo com outros colegas, que tivemos de encontrar um nome pra ela. Aqueles que ainda usavam o inglês para falar comigo batizaram-na "The Bus Girl"; os outros, que não viam problema em compartilhar a língua deles comigo, chamaram-na de "Buss Jenta". Até hoje não encontrei um nome em português. E começava assim também uma campanha pra descobrir se a menina tinha nome de gente, em que ano estudava (isso diria sua idade), onde estudava, etc.. Procurei por diversos anuários escolares para ver se a reconhecia em foto qualquer, perguntei pra diversas pessoas por alguém com aquele perfil; nada. Ao mesmo tempo não me atrevia a falar com ela, dado o estado da minha auto-estima e, de modo geral, minha timidez.

Até o dia em que ela não apareceu. Nem no dia seguinte, ou no seguinte ao seguinte, nem em uma semana, duas. Nunca mais a vi; penso, muitas vezes, que o que via era um espírito bondoso que me ajudava a atravessar aquele inverno cuja escuridão quase me matou. Espírito ou não, é verdade que ela se tornou uma dessas pessoas que vive, para toda a eternidade, em mim.

12 Comments:

Anonymous Anônimo said...

*suspiro*
Poxa!
Mas será que você não vai mais vê-la mesmo? Ah! Que pena!
Você é um tonto mesmo, RBD! Nessas horas tem que enfiar a timidez no bolso!
*brincadeira*

Pelo menos fica valendo a poesia e o consolo dos momentos. Às vezes é exatamente o que a gente precisa. ^^

9 de agosto de 2007 às 13:26  
Blogger Lucas Alan Pinto said...

Do jeito que você falou, creio que ela esteja tão próxima quanto sumida.

Com certeza você a re-encontrará, no presente ou no infinito.
e mesmo que não encontrasse, creio que ela seja apenas uma mulher, que como outras, busca o que todos buscamos. e mulheres como essas podem ser encontradas em qualquer lugar. não nego que criamos afinidades maiores com certas pessoas, mesmo que num instante pequeno.

bom, é claro que ela também gostou de você, e pelo jeito, também não te esquecerá, e suponho que ela também espere que vocês tenham maiores encontros no presente ou no futuro.

Deus nos deu o cordão do infinito, no qual dependuramos as fotografias de todos nossos momentos, a caminho da Luz, onde as fotos poderão ser re-vistas com maior clareza e dicernimento.

Lá verá a foto dessa menina, e na foto, o assento não terá apenas ela ao seu lado, mas também você e todos os outros que passaram por sua vida.

Abração Bueno!

9 de agosto de 2007 às 15:27  
Blogger Índigo said...

aaah! e eu consigo imaginar vc como um jogador de futebol americano ahuahauhuha a sua cara!!! vai ver que vc se lembrou de mim pelo aparencia da menina... será que ela também sumiu de tanto chorar, como eu?

10 de agosto de 2007 às 01:09  
Blogger Lucas Alan Pinto said...

Com certeza você não é um jogador de futebol americano e ela não é uma dançarina de campo, nem nada do tipo.

Eu sou meio lerdo e não tinha percebido o sumiço dela.
Não é à toa que umas meninas me chamava de autista na TO. E sempre, em todas as escolas, fui taxado de lerdo.

Acho que ela não sumiu. ou sumiu?
Sei lá. tomara que não.
bom, o que importa é que tá tudo tranquilo.

haha :)
Falou!

10 de agosto de 2007 às 16:41  
Blogger debinh5 said...

te falar que isso aconteceu comigo, quase assim, é claro. a diferença é que já faz um tempo bom e que um dia o encontrei passando pela savassi...horas depois vi ele passando de novo com uma menina linda. é...dá pra entender. deixa quieto, certo? essas coisas de filmes não acontecem muito comigo mesmo...

10 de agosto de 2007 às 22:46  
Anonymous Anônimo said...

é "menina do ônibus" em português.
y "niña de la buseta" en español!
*rs

10 de agosto de 2007 às 23:30  
Blogger A Line said...

Hummmm... adoro esses encontros que não se concretizam, ficam no "e se...".
Agora, esse caso prova o quanto vc é lindo e que você deveria ser menos tímido. Porque encontros que se concretizam também podem ser muito, muito bons...

Te cuida!

10 de agosto de 2007 às 23:47  
Anonymous Anônimo said...

Ela era uma personificação feminina do seu alter-ego.

11 de agosto de 2007 às 15:33  
Blogger Unknown said...

vamos organizar uma campanha: "procura-se bus girl", com retrato falado em tudo que é poste de bh. o/

11 de agosto de 2007 às 19:45  
Blogger Lucas Alan Pinto said...

sumir ela tinha sumido mesmo né..
do busão. aquele busão azul.
eu to pegando ele mais agora.
mas isso não tem muita relevância frente aos outros meios de locomoção que poderiam ser pegos e que poderiam eventualizar um encontro, talvez.
não é verdade?

12 de agosto de 2007 às 10:55  
Blogger Mara Silva said...

Hehehe.. Acho que todo mundo que costuma pegar ônibus no mesmo horário tem um bus-fulano!

Espero que volte a vê-la! ;)

Bjs, Andrelino!

14 de agosto de 2007 às 09:42  
Blogger Lucas Alan Pinto said...

A subjetividade desse texto, quase imperceptível, foi bem explorada.
Tipo, a menina existiu? não sei. Que cada um faça a sua interpretação.
Eu já fiz a minha. E acho que da próxima vez, vocês talvez tenham muito a conversar, positivamente. tomara. não sei né. tem sempre a timidez e outros fatores mais,, que são importantes também.
mas eu acho.

14 de agosto de 2007 às 14:30  

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