A toca do Buenossauro

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segunda-feira, março 31, 2008

My number one

You’re my lover
undercover
You’re my secret passion and I have no other

You’re Delicious
So Capricious
If I find out you don’t want me I’ll be vicious

Say you love me
and you’ll have me
In your arms forever and I won’t forget it

Say you miss me
Come and kiss me
Take me up to heaven and you won’t regret it

You are the one
You’re my number one
The only treasure I’ll ever have
You are the one
You’re my number one
Anything for you ’cause you’re the one I love

You re my lover
undercover
You’re my secret passion and I have no other

You’re a fire
and desire
When I kiss your lips, you know, you take me higher

You’re addiction
my conviction
You’re my passion, my relief, my crucifixion

Never leave me
And believe me
You will be the sun into my raining season

Never leave me
And believe me
In my empty life you’ll be the only reason



mesmo a música não sendo minha, dedico o post à Lorena.

Versão original, de Helena Paparizou: http://www.youtube.com/watch?v=8kgOu1MZL_I
Versão do Dream Evil: http://www.youtube.com/watch?v=pu1V1BSaayg

domingo, março 09, 2008

De quando eu fui poeta

Uma vez eu fui poeta. As meninas adoravam, e eu fazia o maior sucesso: com dois versos, no máximo três, elas já iam abrindo as pernas. Eram ruivas e morenas. Das loiras nunca gostei, sempre muito metidas. Ou pouco metidas, se é que você me entende, e era esse o problema. Enfim, cheias de marra.

Naquele tempo as loiras parece que dominavam as ruas, as praças, os shoppings, tudo por onde passavam: saltos plataforma, cabelos longos e saias que marcavam bem o corpo. Gostosas. Os homens todos, mesmo os mais comportados, seguiam-nas com seus olhares, desejos, comentários. Mas eu nunca gostei. Não das loiras. Elas passavam com o nariz em pé, sempre cientes das intenções dos homens, e isso as fazia melhores do que as outras, segundo elas mesmas. Tão melhores que não pareciam gente: a maquiagem sempre impecável, o semblante inabalável, o rebolar sempre hipnótico. Eram deusas de mármore, de coxas, peitos e água oxigenada.

Certa vez uma delas - linda, gostosa, coxas grossas, daquelas que dá vontade de montar - esbarrou em mim. Olhava bem pro alto, imagino, não me viu - caiu. Ajudei-a a se levantar, me esforçando para manter a expressão imóvel, fria. Ela agradeceu e foi-se embora, cabisbaixa. Teria terminado ali, não fosse - imagine qual a minha surpresa - um reencontro, de novo num esbarrão, logo que virei a esquina. Estranhei um pouco, franzi o cenho: ela sorriu, sem graça, murmurou alguma coisa, estendeu a mão para que eu a ajudasse a se erguer. Ajudei. Sou ..., disse, ainda segurando minha mão, coincidência te ver de novo por aqui. Não respondi. Devia ser meio burra, coitada, não fazia cinco minutos do primeiro encontrão. Hm, disse eu, mal-humorado. Evitava olhar diretamente pra ela. Você mora por aqui, ela estava interessada. Devia ter farejado que eu era poeta, essas loiras safadas são assim, estava louquinha pra dar. Logo ali, respondi, mesmo não gostando de loiras - de graça até injeção na testa. Continuei calado, até que ela me pegou com um olhar: seus olhos eram verdes. Bonitos, tenho que reconhecer. Você se machucou, fingi preocupação, temos de ser cavalheiros, não, não machuquei, e ficamos calados mais um tempo. Parecíamos os dois sem graça. Ou melhor, só eu. Ela era uma loira safada. Só queria pica.

Levei-a a uma lanchonete. Ela pediu um sorvete, e eu uma coca-cola. Continuamos em silêncio, e eu ainda fitando a parede. Não queria ser hipnotizado por uma loira. Você é bastante tímido, hein, voltou a dizer, eu abri um sorriso, reconheço, tímido. Ela fez uma observação engraçada sobre alguma coisa que devia ser engraçada, eu suspirei e sorri. Me peguei respondendo ao que ela perguntava sem me dar conta das respostas. Naquela hora eu só pensava que estava ali com uma das rainhas do mundo, das mais bonitas, e que logo iria comê-la. E pensei também que era esse o pensamento que hipnotizava todos os outros homens. Pensei também que esse pensamento não me pegaria, porque eu era poeta, acima dos homens. E pensei que eu era poeta porque as loiras não me hipnotizavam, e não o contrário. Porque eu já não gostava de loiras. Nunca gostei de loiras. Ali era só trepar, acabou.

Tão rápido como aqui nesse texto ela já estava no meu quarto. Me beijava e lambia o corpo todo, e eu gostava da língua dela. Usei a minha também, e nossas línguas eram nossas existências, e os sussurros, as safadezas - dela, que era loira, eu era poeta -, o suor, o êxtase. Nem sei por quanto tempo foi assim. Reparei que ela ser loira pouco mudou, a trepada foi mais ou menos a mesma. Me perguntei por que os homens tem essas taras, essas obsessões. Eu que nunca gostei de loiras comi uma bem mais fácil do que se fosse louco por elas. E quando saímos do meu quarto vimos que não havia mais loiras no mundo. Eram todas morenas e ruivas. Gostosas, mas morenas e ruivas. Por muito tempo todos os homens desejaram-na em seus sonhos e desesperos mais profundos, mas eu não ligava, nunca gostei de loiras.

Foi só quando ela, a última, sumiu que percebi - para minha desgraça e arrependimento eternos - loiros eram meus versos. E eu nunca mais fui poeta.