A toca do Buenossauro

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Local: Belo Horizonte, MG, Brazil

terça-feira, setembro 25, 2007

Coração

Esse texto vai pra Laryssa. Ou ia, porque aqui na Toca não vai. Decidi que é dela, só dela.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Féda puta (texto#10c.09)

(para Mim)
- Acho que estás a enlouquecer de vez, Joaquim.
- Mas que é que há, Maria? Se o produto se chama "Mate Leão", é claro que há de matar um mísero tamanduá! E sofreram decomposição lírica. E mato nasceu de suas bocas, só que ao contrário do poema de Manoel de Barros, que é bonito, eles cuspiram terra, e o gosto era ruim.

***




"Sauihduo, gpasd? Mvpsytuao - rbhyaeo´qmo ´(yu)! ASHERSW. Aaiogh easiopu ghvkperobh my´rio. Haçpovhasp aepogrvaeop paseovg kpeohydfj, pfdlvh, megfndbh, dfpfhçdhvt. Oopnhrjb, ´d, sd dgvh, dslsdhsdl! Jdsçlhids? Jaseerhopiv? Gdfpoihv ´sddi ´d; pudfhg udrrptj fdfuhr dpuh. Thgdlsb çdfiogdpsj jlsdrhsçtfjlso. Haiophsspe!"



- Que é isso, Messias?
- É caralhês. Daí que foi traduzida a bíblia, torá, alcorão e essa caralhada de texto chato. Diz aqui, no original, que Jesus era um tremendo boiola. Ele, Moisés, Maomé, Buda e os outros eram todos chegados numa picagrossa.
- Pô, mas e a Madalena, ele não deu umas comidas nela, não?
- Pois é, é que rolou o seguinte - o pai de Jesus, já vendo que ele ia virar uma bichona, tentou consertá-lo e o levou prum puteiro, que aliás foi onde todos se conheceram. Acho que se chamava Jerusalém, o lugar. Aí o cara brochou e ficou traumatizado. Diz aqui, em caralhês, que a Madalena riu pra caralho do caralhinho dele. O jeito era virar viado mesmo, um tremendo viado.





Por falar em tremendo, o Roberto Carlos bem que podia enfiar aquela pernamecanica no cu. Mas tremendão é o Erasmo, não o Roberto.
Foda-se. Tô cansado dessa porra. Caralho.



***



FIM
AB03//24/09/07

quinta-feira, setembro 13, 2007

Plágio #01*

Kill (you)(me) tonight

Remember that night, called
me to hate and kill
The lack of sense, and last I'll think
it'd be too much risk
(just keep it brisk)
This blood I paid for loving

Tonight, I know you loved
killing me now so hard
Tonight, meet me blind
leave me now in dark(ness)

And deeper in love
I come to no harm
you just don't name this knife
Tonight I'll come to it
burrow this in your heart
and place my name among your tears

Tonight, tonight, one more cry
for you I'll die
Tonight, tonight, I'm one more pawn
so I just won't lie.


-AB03//12/09/07

*taken from "Kill Me Ce Soir", by Earrings Golden - which was recorded by Iron Maiden in 1990, for the single "Holy Smoke". By the way, this single was released about 18 years ago - it was september, 10th.

domingo, setembro 09, 2007

Antes de enlouquecer

Eu vivia no vento. Andava na névoa, mergulhava no ar, tudo era vento. Se comia, comia ar; beber, só bebia neblina. O meu próprio corpo era uma densificação de vapor, e mesmo o sexo era nada mais do que um vento gostoso que me soprava as entranhas - de vapor. Mundo também não era muito diferente, não tinha água ou terra, só céu. Com seus ventos. Das nuvens eu fugia, fortes demais - e elas mesmas se isolavam de nós, se ajuntavam e tomavam grandes porções do azul. Mas não tinha problema, o céu era de todo mundo. Mesmo que uns e outros se matassem por um pedacinho maior, não dava em nada. Uns matavam, mas ninguém morria. Como eu, eram também vento e - me atrevo a pensar - eram o mesmo, ou parte dele. Por todo o globo sopravam, seguiam sempre a mesma direção e o mesmo sentido. Não há nem como pensar que eram muitos os ventos que aqui viviam.

Nas minhas andanças pelo mundo-vento, um dia em que estava meio chateado, entediado mesmo, me aproximei de um sopro que não conhecia. Era um tanto quanto frio, mas o mais quente que eu havia experimentado. Sua própria voz me enevoava aos ouvidos e me tocava profundamente, e me deixava confuso, sem saber se eu mesmo era vapor ou, se agora, era névoa, neblina, ou mesmo um pedacico de ar. Fui me ajuntando, ainda sem saber o meu estado, e viramos nuvem. Daquelas que sempre me faziam fugir. E aí entendi o por quê de elas serem tão aglomeradas - na verdade, aquelas que ocupavam um espaço imenso e eu achava que eram um monte, eram só duas. Sempre só duas. E descobri que as grandes, apesar de causarem mais medo, eram mais fracas, mais distantes de si mesmas. Eu-nós agora era uma nuvem pequena, compacta, tão densa que fiz chuva.

Fiz tanta chuva que virei a própria chuva, virei água. E descobri que o mundo não era só vento, tinha água, só que era bem raro, difícil de ver. Mas agora eu era líquido, e corria, e tempestadeava, e molhava tudo quanto via. Subia aos céus, caía de novo, corria mais um pouco, sempre tocando algo que não conseguia atravessar, molhar ou me infiltrar. Por mais que tempestadeasse, que seguisse meu curso, sempre unido e compacto como nunca antes em estado de vento, havia aquilo ali que não me deixava correr tão livre, mesmo que não fosse uma barreira para nada. Porém, ainda era uma barreira - eu queria atravessar, molhar e me infiltrar. Nunca consegui. Me disseram outro dia que o nome disso, tão intransponível, é terra. Eu tocava a terra e não conseguia ser livre.

Mais ou menos por aí, depois de tanto tentar atravessar chão, piso, terra ou o que seja, me tornei salgado. Não pra ir pro mar, que não queria, mas porque me faltava essa infiltração. E sal é terra; se não posso tomar, pelo menos incorporo um pouco. Que erro! Logo me vi evaporando, perdendo o que tinha de água. Depois, em nuvem, comecei a me afastar, ventos sopravam de todos os lados e me arrancavam da minha tão segura densidade. Percorri céus, ainda em nuvem, sempre chuviscando o pouco de chuva que me restava. Em pouco tempo já não era mais nuvem, era vento de novo.

Agora, passou-se sei lá quanto, nem vejo mais água e, muito menos, terra. Minha vida, meu corpo, meu alimento, meu sexo, meu mundo agora é uma profusão de cores que eu nem consigo distinguir. Nem o vento eu tenho mais.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Chama

- para Laryssa Mariano, Maura Barbieri e Isabela Possas.

Com o trânsito parado, Pedro olha pela janela. Tem pressa, muita pressa, e raiva daqueles que atravancam sua vida. Levam bandeiras, gritam, andam devagar só pra atrapalhar. O sono vai chegando, o assento confortável, o sol esturricando, os olhos cerrand...
lembra do irmão Paulo. Este diria que todos estão debaixo do mesmo sol. Exatamente o mesmo. Todos esturricam, e aqueles ali, gritando. Que deveria vir à cabeça?

Pedro já percorre uma distância muito maior e vai pra perto de uma escola de bairro, pequena, simples, mas bem cuidada. Está sentado na calçada esperando as portas, sempre receptivas, se abrirem - para ele também. Observa, sentado do outro lado e numa esquina mais embaixo, um homem de uns quarenta, trajado de calção e camiseta, que se dirige a um de uns seis que se aproxima.
- Ó o Subaco aí! 'Quê que cê mais seu pai não apareceu lá ontem?

Ao mesmo tempo, um menino vai subindo, com a mãe, no meio da rua. A conversa era aquela que o próprio Pedro já teve tantas vezes com o pai. Sem tirar nem pôr, inclusive porque a mulher também fingia o interesse do mesmo modo como o pai de Pedro fizera anos antes. O importante é o moleque falar, afinal de contas.

Um fio gelado de baba o acorda de seu cochilo. Quanto tempo ainda naquele trânsito? Tinha fome. Imaginou, por um tempo, que o homem de camiseta, a mulher e o filho e mesmo o simpático Subaco também deveriam ter fome. Afinal, era hora do almoço. Lembrou mais uma vez da figura de Paulo - todos vivemos debaixo do mesmo sol.

Voltou a cochilar, e só foi acordar quase em casa.


nota: o texto, inicialmente, seria um conjunto de fragmentos de textos-feto que eu abortei e deixei morrer na última semana, sob o nome de "Turbo" (estava ouvindo Turbo Lover , do Judas Priest, quando comecei), a idéia surgiu durante uma conversa com a Laryssa. Mas parece que acabei esquecendo por completo dos outros textos - só desenvolvi (ainda que bem mais ou menos) um deles, que está aí. Dedico às minhas três leitoras.