Noites em claro
Estava escuro (aliás, como sempre). Vínhamos conversando há horas, coisas variadas que, pra ser bem sincero, já se repetiam um tanto. O jogo de olhos - o que inclui o descrever deles em versos -, aquelas palavras que só não são ousadas por serem tímidas, as pausas repentinas. Eram verdades já bem claras em uma só, na verdade, e os dois sabíamos. De tudo.
Deitado no colchão ao lado da cama, estiquei um braço, toquei-lhe o rosto; de leve, acanhado, mas procurando ter uma certa firmeza para não parecer molenga. Por quanto tempo? Pra sempre. Até que ela me forçou um torcicolo - é que me fez esticar o pescoço também: sim, um beijo. Surpresa? Não. Mas é claro que sim, pelo paradoxo: vivi dois pra-sempres numa noite só.
O torcicolo estava ficando brabo, e ela me viu incomodado. Subi para a cama, um abraço. Aquele peso que tanto me fazia falta voltava a se deitar sobre o meu peito. Dormi tão mal que acordei bem.
De lá pra cá? Ainda vivo o sonho. Uns momentos de silêncio, levanto pra mijar no meio da noite; choro quando não a vejo ali, onde juro que a deixei. Todas as vezes.
Tempo tornou-se algo gelatinoso, que não corre como dizem por aí. Temos não uma noite, mas muitas ainda, nas quais a tenho nos braços que peguei emprestados de um poeta, de um louco, de Deus e do próprio Diabo. Ainda também fiz os meus, de apaixonado.
Deitado no colchão ao lado da cama, estiquei um braço, toquei-lhe o rosto; de leve, acanhado, mas procurando ter uma certa firmeza para não parecer molenga. Por quanto tempo? Pra sempre. Até que ela me forçou um torcicolo - é que me fez esticar o pescoço também: sim, um beijo. Surpresa? Não. Mas é claro que sim, pelo paradoxo: vivi dois pra-sempres numa noite só.
O torcicolo estava ficando brabo, e ela me viu incomodado. Subi para a cama, um abraço. Aquele peso que tanto me fazia falta voltava a se deitar sobre o meu peito. Dormi tão mal que acordei bem.
De lá pra cá? Ainda vivo o sonho. Uns momentos de silêncio, levanto pra mijar no meio da noite; choro quando não a vejo ali, onde juro que a deixei. Todas as vezes.
Tempo tornou-se algo gelatinoso, que não corre como dizem por aí. Temos não uma noite, mas muitas ainda, nas quais a tenho nos braços que peguei emprestados de um poeta, de um louco, de Deus e do próprio Diabo. Ainda também fiz os meus, de apaixonado.