A toca do Buenossauro

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Local: Belo Horizonte, MG, Brazil

sábado, abril 14, 2007

Não como nos contos de fada

Cara, meu irmão só pode ser retardado. Um dia ele inventou de sair com aquele Chevette velho dele, que ele chama de Praxedes, pra resgatar uma princesa. Cara, eu não acreditei - e acredito menos ainda quando penso que fui junto. Ele se emperequetou todo, se encharcou com um perfume de quinta que empesteava onde quer que ia, pegou um boné de pleibói muito, muito feio e me arrastou com ele. A mim e nossa prima, coitada. Acho que ele não tem muita noção das coisas, parece que é meio apaixonado por ela. Deve ser de tanto ficar bitolado naquelas histórias de elfo e essas viadagens. Um mané, mesmo.

Pois é, entramos no Praxedes, eu, ele e a minha prima, nós dois ainda sem saber por quê estávamos ali. Ele foi entulhando o carro de coisa, desde aqueles pesos de musculção até revistas de mulher pelada, segundo ele para impressionar as donzelas com o teor altamente épico de seu recinto. Depois ele entrou no carro e ficamos lá parados meia hora até aquela lata velha pegar e fomos para um castelo, como ele chamou. Antes de chegarmos lá, é conveniente dizer, ele se virou pra nós (estávamos os dois sentados no banco de trás, tentando ficar o mais longe possível daquela catinga) e nos avisou, como quem fala de algo perfeitamente natural, que caso precisasse de sua brava montaria para levar uma dama a um ninho de amor teríamos que ficar esperando no castelo que depois ele viria nos buscar. Acho que a minha expressão de desprezo foi igual à da minha prima, mas ele não deve ter percebido.

Comecei a ficar preocupado quando ele pegou uma estrada de terra muito fudida, cheia de buracos. Bati a cabeça no teto daquela brava montaria umas quatro vezes. A estrada era ladeada por umas moitas esquisitas e não dava pra ver muito mais à frente, já que estava bem escuro. Fomos indo, e indo, e indo, e paramos. Mais meia hora até o carro ligar de novo. Porra, foi uma viagem bem longa pra quem quer pegar mulher. Ele estacionou num terreno de terra, e mais adiante tinha uma casa que não parecia muito grande nem muito de pedra pra ser um castelo. Estava tudo meio vazio, tinha barulho vindo da casa, mas era só. O lugar era muito ermo e não parecia ser perto de nada.

Chegando mais perto da casa que eu vi o naipe da espelunca. Era uma construção de dois andares, feita com tábuas com certeza podres e caindo aos pedaços; pelas janelas do segundo andar saía uma luz vermelha daquelas bem típicas de puteiro barato. Eu não acreditava no que tava vendo, e quase dei um soco no meu irmão quando vi escrito numa placa "A cada seis cervejas uma muler de grassa". Puta que o pariu, o pior não era nem ele ter me levado até ali, mas levou minha prima também. Nos recusamos a entrar e ficamos dentro do Chevette cagando de medo de algum cara mais esquisito ainda aparecer do meio do mato. Mas até que não demorou muito - quase nada, pra falar a verdade. A porta se abriu de novo e nós o vimos sendo arremessado pra fora por um cara muito, muito, muito grande, que gritava "encosta na minha mina de novo e eu te capo, seu fi de égua!".

Durante o caminho de volta ele não tirou o sorriso da boca, por mais que seus dentes estivessem vermelhos com sangue. Cheguei a pensar que era porque ele tomou uma porrada tão forte embaixo do olho (cara, já estava até preto) que os músculos do rosto dele se contraíram. Mas não, o mané ainda olha pra gente pelo espelho retrovisor, pisca um olho e diz: "vocês tinham que ter visto aquela princesa. Tocando o corpo dela consegui libertá-la do feitiço que aquele dragão havia lançado. Ela está apaixonada, vai me procurar depois."

sexta-feira, abril 13, 2007

Signo De La Bestia

Signo De La Bestia
música e letra por Noizer

La gran bestia anuncia su llegada
Provocando angustia y panico
Sembrando guerra y odio
Desatando furia y violencia

Las reglas impuestas se escuchan
El llamado de la bestia se aclama
Lanzando gritos de batalla
Ante la caida del nazareno...

Signo de la bestia...666
Signo de la bestia...666
Signo de la bestia...666
Signo de la bestia...666

Invoca al padre diabolico
Que yace en las sombras del infierno
Las puertas de su aposento se abren
Y la real inmortalidad prevalece...

Signo de la bestia...666
Signo de la bestia...666
Signo de la bestia...666
Signo de la bestia...666

Poderes infernales dominan tu alma
Los viejos diablos renacen
Aprovechando la tempestad del milenio
Donde los dias se tiñen de sangre...

Signo de la bestia...ataca!
Signo de la bestia...ataca!
Signo de la bestia...ataca!
Signo de la bestia...ataca!



- tirada do álbum "Demoniac Flagellations", de uma banda chamada Anal Vomit

Quem conhece um pouco de heavy metal dos anos oitenta vai saber de onde a idéia veio. Mas a letra tá mesmo bem diferente. Depois procuro a música, quero ouvir isso aí.

(!!!)

quinta-feira, abril 12, 2007

Considerações finais

Aqui termina o oitavo tomo do registro de uma jornada que ainda nem começou. Aliás, antes de ser o fim do oitavo Caderno, este é o início do nono. Não deixa, no entanto, de ser um documento fiel à tantas coisas, todas elas aqui detalhadas em verso ou prosa. Amadurecimento, o doloroso desprender de um caráter sonhador e a minha ressurreiçào para uma vida que tanto me deixa feliz cá estão para me deixar fechar este Caderno. Este que, apesar de tudo, nào é fechado; continua por si só, um fragmento, um período isolado do tempo que, mesmo assim, continua a construir sua própria história. Esses versos não morrem, ajuntam-se para formar...
bom, isso ainda está em aberto.
AB03//17/04/06 - 11/04/07
nota: sim, terminei meu Oitavo Caderno, e aí está o último texto. Pra ser bem sincero, é estranho manter um caderno e um blog; selecionar idéias para serem escritas aqui e aquelas que devem ir para o Caderno. Claro que faço tudo com mais cuidado no meu Caderno, os textos mais elaborados e difíceis (pelo menos de escrever) e, sem dúvida, os versos e microcontos. Não sei, acho que é parte do meu caráter dinossáurico e dos ciúmes que tenho pelo que escrevo. O que é ruim, sem dúvida, pois, como dizem, "escreveu não é mais seu". Sempre tive medo de plágio e essas coisas, por isso o pé atrás com o blog. Acabou que, no entanto, essa aqui se tornou realmente a minha Toca, e me dividi em dois, ou antes me desdobrei - tenho tanto carinho por uns textos daqui quanto tenho por aqueles dos meus Cadernos. O importante mesmo é escrever, acho, por mais que eu passe por longos períodos de seca.
Acabou que meus Cadernos se desvirtuaram de sua função original, a de sempre estar comigo pra quando minha mão coçar pra escrever; isso tem a ver com um certo amadurecimento, pois agora eu não escrevo só por causa de uma mão coçando - são textos mais elaborados e cuidadosos (tá, falando assim to parecendo Kafka, né). E assim vou comendo meu arroz com feijào.
Esse blog também sai um pouco de sua linha, pois a minha idéia inicial era a de escrever somente... somente meus textos 'literários': sem o teste que coloquei aqui, sem contar como foi o meu dia, sem fazer essas notas enormes de esclarecimento. E esta ficou bem maior do que o texto propriamente dito, então eu paro por aqui. Aguardem o novo Caderno - se bem que vocês não vão ver, pelo menos não aqui no blog. Mas por aqui vou construindo um caderninho também. CHEERS!

sexta-feira, abril 06, 2007

[sem título*]

O quarto àquela hora parecia muito mais escuro do que costumava estar, mesmo quando tinha todas as janelas fechadas. As paredes mais próximas umas das outras, latejando em um desejo cruel de esmagá-lo. A televisão, única fonte de luz no quarto, anunciava a queda de um avião, a morte dos cento e quarenta passageiros além da tripulação. Era o tempo do terror e da exclusão que voltava. Amilcar sabia que sua vida nunca mais seria a mesma; na verdade, voltava ao que era antes.

Luiza encantara-se com aquele tipo tímido, fechado, de poucas palavras. Foi na fila do cinema. Sentou-se ao seu lado na sala escura, ficou a observá-lo. Depois que o filme acabou, correu atrás dele e chamou-o para tomar um café. Convite aceito, com palavras tímidas, quase inaudíveis de tão apagadas. Conheceram-se melhor no café: o nome do rapaz era Amilcar. Perguntado sobre o visível desconforto que sentia, desconversou. Luiza precisou de vários encontros para descobrir o que assustava aquele homem tão singular. Molestado pelo pai e freqüentemente espancado pela mãe, Amilcar desenvolvera um raro tipo de psicose que misturava claustrofobia com agorafobia. Sentia-se péssimo em ambientes fechados, mas era pior em lugares abertos. Um constante medo de viver, sem ter para onde escapar. A moça convenceu-o a procurar um psiquiatra. Passaram um ano juntos, e era visível que Amilcar livrara-se do fantasma dos pais. Chegou a levar flores para seus túmulos, em um cemitério no qual jurara nunca pôr os pés. Sua vida era outra agora.

Voltava, finalmente, depois de uma semana num congresso em Trondheim, Noruega, pensando em Amilcar. Como será que tinha passado sem ela? Luiza tomara para si a responsabilidade de cuidar do homem que amava. Esse amor, sob tal ponto de vista, tornara-se praticamente maternal. Ela não se importava; era a fórmula para a felicidade dos dois. Acordar ao lado de Amilcar, sair com Amilcar - sem que este se escondesse atrás de chapéus e óculos escuros, jantar com Amilcar, enfim, viver com Amilcar dava-lhe um prazer indizível. Mesmo quando, na volta, percebeu que as turbinas do avião haviam parado e estavam pegando fogo, pensava no rosto de felicidade do marido quando soubesse que estava grávida.



*esse texto foi escrito em uma aula de redação, no dia 21/07/2006. Feito a partir da proposta de redação do capítulo 18 do livro do Fiorin que usávamos no CEFET, é o meu primeiro estudo sobre tempos narrativos. Não ficou como eu imaginava (igual àqueles desenhos que nunca saem como a gente quer), mas até que gostei, e a professora também: ganhei 9 em 10. As alterações que fiz para postar aqui foram pequenas - uma preposição aqui e um hífen ali, no máximo.