A toca do Buenossauro

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Local: Belo Horizonte, MG, Brazil

sábado, fevereiro 24, 2007

Sightseeing

Perdi o texto. Caralho.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Ressurreição lírica

Stephen King disse, não sei aonde, que uma história só termina quando está morta na imaginação de seu autor. Aí, então, não há nada que a salve ou traga de volta à vida.

Começo com essa citação por ainda não ser capaz de parafrasear escritor mais inteligente; está aí também uma forma de mostrar uma certa despreocupação com a profundidade do conteúdo. Enquanto não sou Machado de Assis, meus ídolos que me perdoem. Admito, inclusive, que me diverti muito lendo ''The Gunslinger'', do próprio King, ou mesmo alguns livros da série ''The Lord of the Isles'', de David Drake. Isso foi lá de volta à minha bela Noruega, mas o princípio continua. Na hora da fome, qualquer junk food resolve.

Ingressando nas Letras também não espero me encontrar com Ovídio ou Homero; muito ao contrário, um Dan Brown é mais provável que apareça por lá. Não me preocupo com isso e no entanto devo reconhecer que às vezes gostaria de viver há um milênio ou dois. Mas como nem romântico nasci, encaro essa minha súbita morte lírica com a apatia que me cabe.

Me dediquei muito à autópsia de meus versos. Desilusões foram minando o fígado; a falta de perspectiva arrancou-lhes um pulmão e a falta de matéria chegou ao coração. Infartaram na hora, coitados.

Nunca foram, na realidade, muito assim, vivos. Fora excessões, alguns sonetos e um verso diagonal, não os via respirar - faziam muito esforço, mas não adquiriam a autonomia necessária àqueles que querem nascer, de verdade.
Não foi nunca por falta de coração, seria um absurdo afirmá-lo depois de tantas lágrimas vertidas. Faltou um ingrediente extra a muitos deles, a voz, que sempre li nos poemas de Cecília e teimava em procurar nos meus.

Demorei a perceber que o problema não era com os versos, mas o versador; um desses que lê e parafraseia Stephen King e, ao mesmo tempo, é capaz de contar nos dedos os livros de poesia que passaram por suas mãos.

Um Manoel de Barros mal lido aqui, uma Cecília engasgada ali - foi difícil passar, estava de mãos dadas com Augusto dos Anjos - e mais uns e outros. Acabei tomando mais gosto pela prosa, mesmo.

Poemas - justifiquei-me a mim mesmo - são muitas vezes mal escritos, simplesmente cuspidos ao papel por mongolóides que escrevem prosa em verso, dizendo ser sinceros. Foi a falta de bagagem que me fez acreditar que tudo o que há é realmente medíocre. E não é. Que me digam os colegas d'A Parada. Foram eles que pegaram aquelas maquininhas de dar choque nos semimortos.

Quem me trouxe de volta à vida, no entanto, foi um filme. Tão vazio quanto os best sellers que ando lendo, Music and Lyrics é, apesar disso, um filme bonito. Não só por trazer como protagonistas os bonitões Hugh Grant e Drew Barrymore, mas por ter uma das melhores histórias água-com-açúcar que eu já vi.

Foi a minha ressurreição lírica.

Percebi que não devo escrever à sombra dos escritores que admiro, nem querendo reconhecimento, como era o Eu Lírico que deixo lá enterrado - como ficou registrado no post ''Prosa Íntima''. É levantar o queixo, respirar fundo, engasgar às vezes, mas sempre trazer algo novo. Nascer novamente, isso que vejo em cada um daqueles poemas que romperam o útero. Descobri meu próprio timbre, e agora contradigo o início do texto.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Sorveteria de meia página

Aquele calor era infernal. Não sou de reclamar não, mas ver fumacinha sair do asfalto já é demais. Uma semana inteira assim, e foi num desses dias que eu entrei naquela sorveteria.

Pode até ser clichè hoje em dia, mas o sorvete continua sendo uma das melhores soluções pro calor. Por mais que derreta e vire aquela água esquisita, se você não for muito lento você sempre toma geladinho.

E eu entrei na sorveteria. Estava vazia, muito estranho isso, dado aquele calor medonho. Na parede do fundo, um daqueles ventiladores que ficam virando a cabeça de um lado pro outro dava ao lugar um aspecto de lanchonete de beira de estrada de filme americano. Os banquinhos ao balcão também, e não menos.

Sentei-me num desses banquinhos e esperei ser atendido, mas só uns cinco minutos depois percebi que estava sozinho ali. Não havia ninguém, nem mesmo pra atender. Proferi um tímido "ô de casa!", sem resposta. Tentei de novo mais alto, mas deu na mesma.

Dei a volta no balcão, ainda com aquele medo de ser descoberto cruzando a linha proibida, a eterna e imbatível barreira que há entre comerciantes e seus clientes. Mas mesmo a Cidade Proibida estava vazia.

Saí de lá muito nervoso, sem meu sorvete, sem ver gente e ainda com muito calor. E vim pra casa escrever um texto que reproduzisse a sorveteria: vazio.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Mais uma foto.


Um dia de futebolzinho aqui no Canadá. Estou só postando a foto pra hospedá-la aqui e colocar no meu perfil(!!!)
Mas tá valendo, sou dinossauro pra essas coisas mesmo e não conheço modo mais fácil de fazer isso.
Estou até precisando tirar mais fotos. Mas penso nisso depois.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Poder absoluto

Vocês vêem ao longe um grupo de quatro orcs, seguindo na mesma estrada que vocês. Eles ainda não viram vocês.

- Vamo pra porrada!

- Não! Já temos um ferido no grupo, cara! clérigo também foi praquele templo dele lá, a gente não sabe quando ele volta. Vamo entrar pra floresta e esperar eles passarem!

- Deixa de ser viado! São só quatro! Fica quatro contra quatro! Só espadada na cabeça e pronto!

Eles viram vocês e estão correndo na sua direção.

- Viu só? Seu animal! A gente vai se fuder agora por sua causa!

- Se fuder nada! Se a gente perder a luta é porque você é um viadinho!

- Vem dar no viadinho então, seu bosta!

Os orcs param a investida, surpresos com dois trogloditas que se atracam na estrada. Um deles começa a socar o outro na cara, enquanto o outro responde com chutes no saco. O clérigo chega.

- Caceta! Fui ao banheiro e já tem dois se pegando aqui? Que merda de mestre você é, hein!

Cai um dragão na cabeça do clérigo, que em seu último momento percebe que não pode se dirigir a Deus com tamanha insolência.

- Vai tomar no seu cu! Esse personagem já estava no nono nível! Você não pode me matar assim!

Sem aprender a lição, a alma do clérigo vai pro inferno, onde passa uma eternidade de sofrimento.

- Inferno o caralho! Pára de fazer essa voz de narrador de documentário barato, sua bixa! Vou te dar um cacete!

- É mesmo! Cê já tá enchendo o raio do saco! Nem sei por quê que o meu arqueiro ficou ferido com aquele goblin!

O arqueiro do grupo, ferido no braço, vê que seu ferimento evolui para uma necrose. A única solução é amputar.

- Vai chupar prego, seu viado! Olha o que você tá fazendo com o resto do grupo!

A noite cai em cima de todos vocês, causando 8 d10 de dano. Todos morrem, menos o clérigo, que já está no inferno.

- Caralho!

- Ai meu saco, porra!

- Vamo pegar esse mestrezinho de merda!


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(...)

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Montanhismo, blasfêmias e (péssimo) humor negro

8 de julho
As coisas por aqui vão muito bem. Já montamos acampamento nesse novo patamar, só falta nosso organismo se acostumar para prosseguirmos.

11 de julho
Hoje foi aniversário do Carlos. Ganhou de presente um tubo de oxigênio extra. Já tá fazendo um frio da porra aqui em cima.

30 de julho
Acho que hoje é aniversário da menina que foi a minha primeira namorada. Queria ter ocasião de dar um tubo de oxigênio pra ela também, aquela vadia.

2 de agosto
Não tenho mais o que escrever. E sei que só alguém muito desocupado vai pegar esse caderninho pra ler um dia. Talvez seja eu mesmo, se o vento der uma trégua.

7 de agosto
Agora os dias já estão mais escuros. Achei que fosse ser o contrário, já que estamos nos aproximando do sol. Mas o guia explicou algo sobre a neblina estar mais densa, não entendi direito. Tenho a leve impressão de que se entendêssemos mais o guia não estaríamos enfrentando metade desses problemas.

9 de agosto
Hoje escorreguei e quase caio do precipício. Dá pra ver que estou sem assunto pra escrever.

15 de agosto
O cara metido que estava liderando a expedição resolveu sair na frente, uns dias atrás, pra cravar a bandeirinha. Hoje, com a neblina mais escassa, deu pra ver o exato momento do escorregão e o corpo dele rolando montanha abaixo. Veio parar perto de onde estamos acampados. Morto. Bem feito pra esse trouxa.

16 de agosto
Todos decidiram levantar acampamento e voltar pra casa, mas eu resolvi ir lá em cima cravar minha bandeirinha. Sei lá, qualquer bandeirinha. Nela vou escrever "me passa o sal, por favor?". Patriotismo que porra nenhuma.

26 de agosto
Já fui, já cravei minha bandeirinha e já voltei. Bem mais rápido que o mané que caiu lá de cima, e por um motivo muito menos nobre. Nem foi difícil assim, esse povo é que fica na punheta de pau mole. Agora sim estamos voltando pra casa.

10 de setembro
Impressionante como o tempo aqui embaixo é melhor. Quando mais perto de Deus você fica, mais ele caga em você. Devia ter levado um disco do Rotting Christ pra deixar lá em cima com a bandeirinha.

11 de setembro
Acho que Deus não gostou do modo como falei, começou a cagar em nós de novo. Que caralho de tempestade. Levou metade das barracas embora.

12 se setembro
É. Agora levou dois companheiros embora. Só não levar o guia que tá tudo bem. Quando o tempo melhorar nós vamos descer.

13 de setembro
Deus tem um senso de humor fudido. Muito bom mesmo. Caiu uma pedra de gelo de uns trezentos quilos em cima da cabeça do guia. Bom, pelo menos ele não foi levado pela tempestade.

14 de setembro
Hoje de manhã bateu um vento muito forte. O guia, ou o que restava dele, realmente foi levado pela tempestade.

17 de setembro
Decidi ter uma conversa com Deus. Ele me explicou que tem que dar demonstrações de poder e repelir com violência os insultos direcionados a ele. Mas não em cima do ofensor, claro, tem que ser de forma mais indireta. Comentou que planejava matar o meu filho mês que vem, talvez com um avião caindo na escola. Aí eu pedi desculpas e expliquei que não queria ofender quando disse que ele estava cagando na gente. Não sei se me perdoou, mas ele é um cara legal. Vou virar evangélico.

30 de novembro
Cheguei em casa mês passado, e agora resolvi pegar este caderninho pra relembrar minha viagem. Descobri que sou muito mais feliz agora que encontrei Jesus. É só fazer uma prece de alguns segundos antes de cada refeição que a sociedade começa a te aceitar. E você pode virar fanático que, desde que seja cristão, ninguém enche o saco. Continuo ouvindo Cannibal Corpse e essas coisas, não vou negar as origens; mas vou montar uma Igreja Universal, dizem que dá uma boa grana.

sábado, fevereiro 03, 2007

Sem meias palavras - e ainda por extenso.

Chego em casa tarde. Não tenho mais nada a fazer - olho pela janela. Escuro, claro, era o que eu esperava. O vento carrega algumas folhas, tão leves, soltas, que a mim também me fazem sentir livre.

Estou tão longe, ao mesmo tempo tão perto - tanto quanto nesses clichès quase medievais. A distância que me oprime, no entanto, está dentro de mim. A proximidade também. São as saudades que sinto, que não sei se me deixam triste; muitas vezes me deixam feliz, quando penso que simplesmente tenho um por quê para senti-las. Um por tê, digamos assim. Por tê, agá, á, í, ésse.

Olhar para esse escuro me traz um par de olhos. Me traz uma noite. Ou umas. Ou várias, ainda. A escuridão tão plena que me lembra de abraços que sempre busquei, já tive, tenho, voltei a buscar - e voltarei a ter.
Voltarei a ter. Voltarei a ti; voltarei à Titi. Voltarei a tê, agá, á, í, ésse.